Quem mexeu no meu queixo?

“Topetudo”, “nariz empinado”, “ter o rei na barriga”, “queixo prá cima”… essas expressões retratavam as pessoas com ego inflado, que se achavam maiores e melhores que os demais. Tal síndrome provoca uma estranha (e falsa) sensação de segurança, de superioridade, seguida de ações e atitudes automáticas, sem maior reflexão. Afinal, quem mexeu em nossos queixos? Quem nos induziu a pensar que somos maravilhosos e sensacionais, totalmente imunes às vicissitudes?
Mais de uma vez na vida me deixei levar por elogios (sinceros ou não) e acreditei que a altura do meu queixo era bem maior do que a real posição que ele ocupa. No entanto, a vida me colocou nos trilhos rapidamente proporcionando choques de realidade, lembrando que não existem super-heróis voadores, indestrutíveis. Mas existe kriptonita.
Empresas também passam pela experiência do “queixo alto”. Diretores, gerentes e colaboradores, por vezes, julgam que os produtos e serviços de suas organizações são infinitamente superiores aos da concorrência. Acreditam nisto e subestimam seus concorrentes. Volta e meia são surpreendidos por terríveis verdades dolorosas e perdem clientes fiéis. Quem crê que é o melhor de todos não precisa aprimorar processos de trabalho, escutar clientes, criar novas soluções, investir na capacitação de colaboradores, reduzir desperdícios, analisar informações, otimizar recursos. Continuam fazendo o que sempre fizeram – mas o mundo, o mercado e as pessoas estão em constante mudança.
O banho de água fria se dá na conta bancária, apagando nosso orgulho. Quando as vendas ficam cada vez mais difíceis, as entradas de caixa diminuem – mas os custos e despesas fixos continuam presentes. E quando falta dinheiro, empresas de “queixo avantajado” precisam buscar recursos em bancos (empréstimos), precisam descontar duplicatas. Fixam asfixiadas, passam a preocupar-se apenas em “pagar as contas”. Não conseguem pensar, conversar, ouvir, promover melhorias. Vivem apenas para apagar incêndios intermináveis. Como planejar em um ambiente desesperador?
Ao reduzirmos a altura (e o tamanho) de nossos queixos, melhoramos nossa visão. Conseguimos enxergar melhor nossas falhas (elas sempre existem), nossas oportunidades e nossas reais virtudes. Constatamos então que devemos nos empenhar continuamente no aprimoramento. Humildemente ouvimos pessoas, acatamos observações e críticas, realizamos o saudável exercício da autocrítica. E criamos condições para a virtude possa atuar. As pessoas em nossa volta constatam que somos capazes de assumir nossas limitações, que sabemos voltar atrás, que agimos firmemente, que trabalhamos com vigor, que nos esforçamos para acertar.
Com o avanço dos anos, percebemos claramente que não devemos permitir que mexam em nossos queixos. E que, na maioria das vezes, ninguém quis mexer – nós é que acreditamos, de maneira pueril, que nossa mandíbula é colossal.

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